domingo, 6 de junho de 2010

A noite sem amanhã

Sair para a balada para assistir um show com várias bandas se assemelha muitas vezes a ir numa lanchonete para comer um sanduiche. Há dias em que o pão está ruim mas o recheio está bom, há dias que o pão está bom e o recheio está ruim, há dias em que está tudo ótimo e há dias que você ganha uma diarréia quando não, uma intoxicação botolínica, que pode até vir a ser fatal.
Ontem foi assim, recebi o email informando dos shows, a saber: Wado, um tal de dj lady gala (a letra minúscula é intencional) e a Alma de Borracha; convenci a minha chefinha-sargenta-toda-poderosa e amada namorada  a ir comigo, marquei com os amigos, sai mais cedo para uma parada estratégica onde tomamos um vinho, chegamos na hora marcada e esperamos o show começar com um atraso de uma hora, como é de costume nas baladas de rock em Maceió. Seguem os fatos que agora relatarei:

A noite estava boa, o bar estava cheio de gente e o show do Wado como sempre, foi muito legal, com o público dançando e cantando junto com ele. Rostos alegres e uma boa energia no ar sugeriam que a noite seria das mais agradáveis, e assim foi nosso pensamento até o fim da ultima música do Wado. Veio a pausa normal para a substituição dos instrumentos do palco, ao som de música eletrônica, tempo que ficamos conversando e tomando umas cervas. Bom, isso foi o pão, que estava bem assadinho, coradinho, a casca crocante...  

Daí, sem mais nem menos, uma figura grotesca fantasiada de Lady Gaga, entra no palco ao som de uma das músicas dela que não sei o nome e nem me interesso em saber. Enquanto eu olhava incrédulo para aquela cena, alguns começaram a dançar e o cara foi animando o povo, então desviei a atenção e continuei a conversar desinteressado no que acontecia no palco. Dai a pouco o tal, que só tinha colocado essas versõezinhas de música pop e algumas do finado Michael Jackson,  se sentiu à vontade para mostrar sua horrenda face malévola e sádica. Fomos atacados com músicas de forrozinho de plástico, como se ele estivesse hasteando o estandarte agourento do seu exército das trevas, para logo a seguir sermos vilmente atacados em nossos coraçãoes com a versão mais bizarra e desrespeitosa já feita de uma música dos Ramones. Pobre Joe Ramone, deve ter se revirado de dor em seu túmulo ao ter um de seus hinos achincalhado com uma batidinha de tecno-brega. A dor foi grande, mas infelizmente meu protestos chingatórios foram abafados pela altura do som, e foi realmente uma pena que eu seja uma pessoa civilizada, não fosse, teria desligado a tomada do som. Isso teria me poupado do golpe de misericórdia, pois enquanto estávamos ainda agonizando ele veio sob a forma de uma versão tecno-brega de Enjoy the Silence, do Depeche Mode.

Sinceramente eu não lembro nem o nome da música dos Ramones que ele profanou, talvez por um mecanismo de defesa da minha psiquê ou provavelmente pelo trauma provocado, o que sei é que não aguentei mais e saí procurando alguém para reclamar, e como eu não sabia quem fora o organizador-cúmplice da festa, fui atrás do Wado para pedir, encarecidamente, que da próxima vez que ele for tocar junto com esse cara, por favor, esqueça de me enviar o convite.
Depois de engolir esse recheio estragado, mesmo sendo eu grande fã do João Paulo, não tive mais condições mentais para aproveitar o show do Alma de Borracha. Tá certo, isso é exagero, na verdade por causa daquela aberração, a Alma de Borracha acabou entrando no palco mais de três da manhã, quando eu já estaca muito cansado. Fui para casa.

Mas ficou a lição, e as cicatrizes também, dessa noite triste que poderia ter sido muito boa, mas terminou pior que minhas mais fortes ressacas. Acordei agora de manhã com uma sensação de ter sido violado ou envenenado, e acho que terei que procurar ajuda de algum terapeuta, ou encher a cara e ir para um bom e velho show de Punk Rock para curar mais esse trauma que carregarei até o túmulo. 


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