Texto escrito pelo Verme em momento de poética inspiração
...Doze anos esperamos por ti
Dia após dia, anos a fio.
Dozes duplas, triplas
Múltiplas medidas
No aflorar de tua vaidade,
Como és doce
Alcoólico topázio
Não sejas sempre assim,
Tão breve...
Cheguei ainda pouco, na vitrola, Billie Holiday destroça meu coração cantando Solitude. Brandamente alcoolizado, um sabor amargo na boca, relembra doces aventuras juvenis, na companhia de um amigo de velhas eras e covas. Não pelo álcool em si, mas pelo que ele me proporciona: uma conversa franca, sem sublimações ou medo de perguntar e responder, sem freios. Noites embaladas em ouro envidraçado, no qual o conheci aos poucos, em muitas noites, duplas, triplas, múltiplas dozes, em que risos algumas vezes se misturaram às lágrimas.
Algumas coisas na vida precisam de ritual, pois os prazeres se perdem na necessidade de seguir os passos dos outros. O Whiskey sabe disso. Ele não lhe diz o que fazer, o alcoólico topázio nem sequer coloca a mão no seu ombro, porque sabe que a sua dor não passará assim; ao invés disso, apenas fica na sua frente, calado, te esperando, pois te conhece profundamente como ninguém. Existem raras coisas nesta vida que se deve fazer sozinho. Uma delas é sentar-se ao vazio da sala, na mudez do peito onde só há você, e os milhões morcegos que atordoam sua consciência, que lhe faz ter calafrios pela canalhice que você cometeu horas antes, pelas mulheres que você machucou sem que elas merecessem, pelo amigo que você ofendeu. É só ali, ao vazio da sala, que somente seu coração palhaço e vadio é capaz de entender, que sempre irá magoar uma mulher, na plena convicção de que isso não é certo, ao mesmo tempo em que admite, com a mesma certeza de que sempre haverá um dia após o outro, você não conseguirá evitar.
E nessas horas, sentado ao vazio da sala, na mudez de seu coração palhaço e vadio, onde só há você, e os milhões morcegos, só duas companhias lhe são permitidas. Uma delas é Billie Holiday, porque ela como ninguém mais, sabe o que se passa em sua alma e desmorona as muralhas de seu peito cantando You're too lovely to last, então você entende, que não são necessárias palavras e apenas naquele momento, só você, a música, o perfume do malte que vem de seu copo e seus morcegos, lhe são necessários. Ou quando você desaba na mesa do botequim, e ao conseguir voltar para casa, as estrelas e somente elas, iluminam o seu caminho, e quando resta a última doze, chegamos a concluir que porra nenhuma interessa, e que a vida toda é uma grande brincadeira, quando às vezes choramos por elas e sabemos que não somos nada, mas que nossas micro tragédias são enormes, e quando esgota a última gota da garrafa, chegamos até mesmo a concluir que nosso universo masculino foi composto ao decorrer dos milênios, por vãs palavras como estas, muitas vezes ditas em momentos como este, quando nada mais importa ou faça sentido, quando se está sozinho, a garrafa vazia largada sobre a mesa, e de quão somos diminutos perante as mulheres.
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