É muito comum hoje em dia escutarmos pessoas falando sobre a “dinâmica da relação” quando se referem a natureza esplosiva ou calma ou estridente ou excêntrica dos relacionamentos amorosos, o que eu não imaginava é que a física enquanto ciência aplicada fosse tão importante na condução dos relacionamentos. Tá certo que dinâmica já é em si uma disciplina, mas nunca imaginei que para entender minha namorada eu tivesse que entender conceitos de espaço e tempo tão a fundo. Tive esse insight algumas semanas atrás assistindo um programa do Discovery Channel sobre o Físico britânico Stephen Hawking, onde se falava que quanto mais próximo de grandes massas como os planetas, estrelas e buracos negros, o tempo passa mais devegar, e que se afastando dessas massas o tempo passa de forma mais acelerada.
Tá bem, mas qual a relação disso com os relacionamentos amorosos? Pois bem, depois de muito levar bronca pelos meus atrasos e de muito reclamar por ficar um tempão esperando que ela terminasse de se arrumar para saírmos, descobri que o tempo passa de forma diferente para algumas pessoas. Não me refiro aqui a persepção da passagem do tempo, mas da passagem do tempo em si. Depois de muito pesquisar descobri que na região onde mora minha namorada deve haver alguma fissura espacial, que altera drásticamente a velocidade do tempo. Para ter certeza, conduzi um experimento pautado por metodologias altamente científicas. Para começar depois de estabelecermos dois fusos espaço-temporais sendo o fuso 1 do apartamento dela e o fuso 2 o de minha casa, marcamos de nos encontrar para almoçar, estabelecendo que seria quarenta minutos a partir daquele telefonema.
O tempo passou enquanto eu lia notícias na net, atualizava o blog, escutava música e quando percebi já estava atrasado, faltando apenas 5 minutos para o encontro. Saí correndo para tomar banho, que tomei enquanto observava aflito se o telefone tocaria enquanto estava no chuveiro. Não tocou. Saí do chuveiro então e me vesti tão rapidamente que já estava suando com o calor do aquecimento do corpo. Quando finalmente me vesti, já estava com quase quinze minutos de atraso. Aí finalmente peguei o telefone para fazer a pergunta fatídica: Você está pronta????
Como eu já esperava a resposta foi negativa, tentei então descobrir as causas dessa diferença, primeiramente analisando a geografia onde as duas residências se localizam, e descobri que apesar de morarmos no Farol, perto da casa dela existem mais edifícios do que da minha, sendo que como já foi dito ela própria mora em um prédio e eu em uma casa. Uma outra possibilidade seria a existência de alguma fenda espacial, como um portal no tempo, que nos liga através de dimensões como aqueles que víamos nos filmes de ficção, essses portais são conhecidos como Wormholes e certamente influenciariam no tempo. Isso junto com a geografia certamente provoca essa diferença.
Mas há ainda um outro problema, que é a aceleração do tempo ou melhor, do retorno do fuso 1 onde o tempo é mais lento para o fuso 2 onde é mais rápido. Estabelecemos que nos encontraríamos em vinte minutos. Essa experiência foi mais perigosa e exigiu o máximo de controle de fatores externos que pudessem influenciar no efeito, sendo assim, para passar os vinte minutos, desliguei o computador, desliguei a tv e fiquei escutando música com o celular. Após algum tempo olhei para o relógio e percebi que já haviam se passado 27 minutos e então liguei para saber se já deveria ir busca-la. Resultado: levei a maior bronca pois ela já estava esperando há algum tempo e eu havia me atrasado. Percebi então que ao se afastar do portal temporal que deve ficar no próprio apartamento, mais precisamente no quarto, mais precisamente na penteadeira onde ela guarda os cosméticos de maquiagem, ela passa a perceber o tempo de forma muito mais rápida, como se seus sentidos estivessem hipersensíveis.
Para resolver a questão e terminar definitivamente com os efeitos problemáticos que a distância e a influência de portais temporais nos causam, decidi comprar um apartamento para morarmos juntos, quem sabe assim, expostos aos mesmos efeitos gravitacionais a nossa percepção de tempo possa ser mais sincrônica, e nós dois possamos percorrer nossas tragetórias no Continuum Espaço-tempo sem tantas anomalias.